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Presidente da Andifes ministra Aula Magna na abertura do semestre letivo da UFV

“O Brasil tem o melhor sistema universitário do mundo”, diz presidente da Andifes em Aula Magna
04/02/2021

“Pensa numa Aula Magna daquelas de encher o coração de esperança?!”. Esta mensagem registrada no chat do canal da UFV no YouTube, durante a Aula Magna do professor Edward Madureira Brasil, resume, de certa forma, o evento promovido pela Universidade nessa quarta-feira (3). Apesar de o convidado da noite ter ressaltado o difícil momento pelo qual as universidades públicas passam, a esperança conduziu a sua fala. Tal sentimento talvez se baseie na experiência de quem preside, pela segunda vez, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e está na sua terceira gestão como reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Esta trajetória reforça o seu entendimento de que o Brasil tem o melhor sistema universitário do mundo, com força para transformar a vida das pessoas e do país.

O professor Edward Brasil abriu o semestre letivo da UFV com a palestra A importância da autonomia universitária diante dos desafios da pandemia. Durante sua exposição, lembrou que a discussão sobre autonomia universitária não é nova e nem está longe de terminar. O primeiro registro sobre esta questão, segundo contou, veio da Universidade de Paris, quando, por volta de 1229, estudantes, professores, bispo e rainha se desentenderam. Em sua avaliação, a inquietação dos ambientes de liberdade que povoa as universidades é incompatível com os desejos dos mantenedores, dos governos e das igrejas, onde nasceram as universidades antigas.

Embora a discussão entre universidades e governos não se restrinja à época em que vivemos e está presente desde as monarquias, essa luta, conforme o presidente da Andifes, se materializa em intervenções nos governos mais autoritários. “Não é por acaso que temos, neste momento, no país, algumas universidades sob intervenção. Não podemos dar outro nome para a situação na qual uma lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário e submetida ao governo não tenha um nome daquela lista sendo nomeado. Isso é intervenção. Não é outra coisa”, afirmou.

Características e finalidades

Convicto de que não há no mundo um sistema universitário que consiga fazer as transformações que as universidades públicas brasileiras fazem com os meios que dispõem, o professor conduziu suas reflexões apontando características e finalidades das instituições públicas de ensino superior. Uma delas, claro, diz respeito à função precípua da universidade de formar profissionais, que se estende para a formação de cidadãos. E como essas formações acontecem nos espaços múltiplos da universidade, ela sofre, neste momento, por não ter atividades presenciais. Isso porque a universidade, em sua opinião, se dá no encontro, no movimento estudantil, nas ações de cultura, nas aulas práticas e na interação no dia a dia.

O presidente da Andifes comentou que o que as universidades estão fazendo, neste contexto de pandemia, é uma política de redução de danos, que precisa ser realizada com qualidade e competência para que o impacto seja o menor possível. E aí “as universidades brasileiras são extraordinárias”, afirmou. “Responsáveis, cuidaram da conectividade, da formação dos estudantes, da capacitação dos docentes e estão, sem dúvida, fazendo o melhor ensino remoto possível. Isso porque as pessoas são engajadas e se desdobram”.

Para o professor Edward, neste momento de pandemia, as universidades foram as grandes articuladoras com todos os atores da sociedade, se mostrando solidárias e comprometidas. Isso se revela em ações que envolveram desde o acolhimento de pessoas ao desenvolvimento de equipamentos e estudos da doença. Contudo, ao mesmo tempo em que é acionada, indo para a linha de frente, ela também é o lugar de se pensar o amanhã. E não há dicotomia nisso, defendeu o professor.

Outra razão que coloca o sistema universitário brasileiro em destaque, de acordo com o presidente da Andifes, é o seu papel de corrigir assimetrias. A expansão que as universidades federais tiveram – chegando a 337 campi e os institutos federais a quase 700 – criou oportunidade única na vida das pessoas. “Hoje, temos a responsabilidade de incluir; reservamos 50% das nossas vagas para estudantes de baixa renda, que não tinham acesso à educação superior. Mas não basta incluir. Temos que garantir a permanência e o êxito”.

Na lista do professor, também está o compromisso das universidades em colaborar com outras etapas da educação, além de atuar no empreendedorismo e na transferência de tecnologia e inovação. “A universidade existe para promover o desenvolvimento”.

Autonomia x soberania

Durante a Aula Magna, o presidente da Andifes contou que não são raras as vezes que, ao se defender a autonomia universitária, as pessoas dizem que as universidades querem é soberania, ou seja, uma instituição sem fiscalização, regras, metas e objetivos. “Absolutamente nada disso”. Ele justificou lembrando que as universidades primam pela obediência, sempre, à Constituição Brasileira; que têm o compromisso absoluto com o estado democrático de direito, com a liberdade de expressão e de pensamento e com o respeito ao ser humano acima de tudo. Além disso, são laicas e suprapartidárias.

O presidente da Andifes também comentou que não existe no país nenhuma instituição tão cobrada e fiscalizada por tantos atores – externos e internos – quanto a universidade. E isso vai do Tribunal de Contas da União às agências de fomento, quando se concorre a uma cota de bolsa. Contudo, destacou o crivo maior e que mais orgulha as universidades: “somos a instituição mais procurada pela sociedade brasileira, de todas as camadas da população. A gente passa pelo crivo da escolha”.

Por todas essas razões, Edward afirmou que nem de longe quando se fala em autonomia se está falando de soberania, de descumprimento de regras. “Nós queremos é oportunidade de trabalhar e de promover o desenvolvimento do país. Para o presidente da Andifes, a autonomia é um valor que precisa ser absorvido pela sociedade brasileira. “Daí a importância crucial de cada vez mais estarmos próximos da sociedade, para ela conhecer, reconhecer e valorizar as nossas particularidades, aquilo que é a sua essência”.

O presidente da Andifes foi virtualmente recebido pelo reitor Demetrius David da Silva, pela vice-reitora Rejane Nascentes, pelo pró-reitor de Ensino, João Carlos Pereira da Silva, e pelo coordenador geral do DCE e vice-presidente da UNE Regional Sudeste, Diego Carlos Ferreira. Na abertura da Aula Magna, o reitor lembrou que a pandemia trouxe profundas alterações nas rotinas acadêmicas e administrativas, e que o período está sendo de aprendizado para todos.

O professor Demetrius ressaltou que todos os protocolos e recomendações de caráter científico referentes ao enfrentamento à Covid-19 foram e serão acatados pela UFV. E reforçou que as universidades públicas são instituições que se dedicam ao ensino e ao desenvolvimento do conhecimento científico. “Não seguir as orientações de caráter científico equivale a negar a razão de ser e de existir das próprias universidades públicas”.

O reitor da UFV disse que o ensino, a pesquisa e a extensão, assim como a inovação tecnológica, são fundamentais para o desenvolvimento de qualquer nação. “Não enfrentaremos as desigualdades sociais e econômicas, bem como a desindustrialização, que temos vivenciado no nosso país, com o sufocamento das nossas universidades públicas”.

Para ele, o grande desafio atual é mostrar aos governantes a importância estratégica das universidades, particularmente, num momento tão complexo de crise e de pandemia como o que vivenciamos. Em sua avaliação, o desenvolvimento só é possível com a educação, e uma das formas mais consistentes de contribuir para a formação do capital humano é possibilitar que a comunidade universitária possa ter voz e direito de se manifestar a respeito de seu próprio destino.

Além de fazer a abertura e o encerramento do evento, traduzido em Libras, o reitor direcionou ao convidado as perguntas dos participantes, organizadas pela assessora especial da PRE, Cristiane Baquim. As perguntas renderam reflexões sobre outros temas, dentre eles, os cortes no orçamento das universidades, que também ameaçam a autonomia universitária; a parceria público-privada; o possível retorno das atividades presenciais em março e a união das universidades em torno de um projeto de sistema federativo.

A Aula Magna com o professor Edward Brasil pode ser conferida no canal da UFV no YouTube.

Adriana Passos – Divulgação Institucional